terça-feira, 14 de setembro de 2010

Doenças respiratórias na Infância

ARTIGO PUBLICADO POR:
Laura Maria Belizário Lasmar
Médica pediatra pneumologista do Pam Campos Sales - Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte e Referência Técnica de Doenças Respiratórias e do Programa de Asma da Coordenação Materno Infantil da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais

      A s doenças respiratórias têm grande importância epidemiológica na infância. As pneumonias são a principal causa de óbito nos menores de cinco anos (excluindo as causas perinatais), a asma a segunda causa de hospitalização de um a nove anos e as infecções de vias aéreas superiores a primeira causa de atendimento ambulatorial.

           As ações destinadas ao enfrentamento deste grave problema de saúde pública que representam as doenças respiratórias devem levar em conta as características clínicas, anatomo fisiológicas e epidemiológicas da faixa etária pediátrica que torna os menores de cinco anos - principalmente os menores de dois anos - tão vulneráveis aos agravos do sistema respiratório.

    Os lactentes apresentam várias condições que os propiciam ao agravamento do quadro respiratório:

      - Vias aéreas de menor calibre: o que os torna mais susceptíveis à obstrução por processos inflamatório e conseqüente aumento da resistência das vias aéreas quando comparados a adultos e crianças maiores (estamos atendendo com toda nossa capacidade e vitalidade uma criança e logo vem a sensação " meu Deus este broncoespasmo não melhora").

      - Ausência de comunicações (poros de ventilação colateral) para desvio do ar quando uma via aérea se torna obstruída. Até perto de dois anos estas comunicações quase inexistem. Este fator anatômico tem grande importância clinica e epidemiológica. Em caso de obstrução a área do pulmão que recebia ar desta via aérea se colaba e é interpretado como Pneumonia. Este fato ocorre principalmente nos lactentes chiadores que freqüentemente se internam e recebem diagnóstico de Pneumonia elevando artificialmente as estatísticas oficiais (como fica esta importante ferramenta de planejamento que é a informação?).

      - Menor quantidade de alvéolos, diminuindo a superfície de trocas gasosas. Uma criança ao nascimento tem aproximadamente 25 milhões de alvéolos, chegando a 250 milhões em torno de 2 anos e ao número da vida adulta(cerca de 300 milhões) perto de 3 anos. Este fator os torna os lactentes mais susceptíveis a apresentar queda nos níveis de oxigênio no sangue ("ele parece só piorar")

      - Grande elasticidade dos ossos da caixa torácica: esta particularidade anatômica faz com que eles respondam a obstruções das vias aéreas com intensas retrações (tiragens).

      - Diafragma: este importante músculo da respiração é menos desenvolvido e quando é solicitado a uma carga maior de trabalho pode ir facilmente a exaustão.

       - Proporcionalmente os lactentes apresentam maior numero de glândulas mucosas levando-os a uma maior produção de secreção durante infecções.

       - Elevada prevalência de sibilância nos primeiros anos de vida como abaixo demonstrado em estudo de seguimento.








     
          Em conclusão , aproximadamente 33% dos lactentes desenvolveu asma e a maioria 67% não desenvolveu.

          Este estudo nos coloca em permanente desafio sob dois aspectos:

         - os lactentes que sibilam sem ser asmáticos não necessitam de tratamento preventivo com corticoesteródes inalados. Mas sua importância durante uma crise aguda não pode ser minimizada, devido à rapidez com que eles (aspectos anatomo fisiológicos) podem evoluir para insuficiência respiratória.Em saúde pública representam um grande volume que se traduz em pronto atendimentos superlotados , equipes exaustas e a sensação de "não ter fim" ". Estes" bebês chiadores "(às vezes chamados de" felizes "?) necessitam de vinculo contínuo em atenção básica".

         - Os lactentes que são asmáticos ( 60% dos asmáticos inicia seus sintomas no primeiro ano de vida) tem que ser distinguidos precocemente para inicio de tratamento preventivo. Necessitam de uma combinação equilibrada de monitoração contínua da equipe de saúde ,fornecimento regular dos insumos e apoio às famílias. Atendimento integral para que haja aderência ao tratamento preventivo.

          Ao lado deste desafio emergem as questões: como é realmente o vínculo? como é o processo de trabalho na minha unidade? o que representa no todo? como trabalharmos de forma coordenada e equilibrada para planificar esta assistência? como realmente trabalhar em equipe? como atender integralmente? somente aumentar recursos humanos? mais insumos? mais hospitais? centros de saúde? As questões não param e não devem parar de ser formuladas.

         Finalizando, ao lado destas importantes particularidades anatomo fisiológicas encontra-se um importante fator de risco que é a maior susceptibilidade à infecção viral. Uma criança de até cinco anos de idade - em todo o mundo, apresenta de forma igual --- 5 episódios de infecção respiratória aguda por ano. Entretanto a desigualdade se expressa na incidência anual de Pneumonia: nos países desenvolvidos é de 3 a 4% contra 20% nos paises em desenvolvimento. As mortes por Pneumonia foram virtualmente erradicadas dos países desenvolvidos.
      
         As particularidades anatômicas e fisiológicas aliadas à maior exposição viral expõe a vulnerabilidade da faixa etária pediátrica aos agravos do sistema respiratório e impõem aos serviços de saúde medidas contínuas de acompanhamento e uma releitura cotidiana de nossas ações.

                                   REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

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